Dr.ª Andreia Azevedo - Trabalho realizado no Mestrado
No seguimento do estágio realizado na Escola Sá de Miranda, junto do acervo de Pereira Caldas, a Dr.ª Andreia Azevedo concluiu, com mérito e excelência, o seu Mestrado em Património Cultural na Universidade do Minho, sendo-lhe atribuído 18 valores.
O Relatório de Estágio, cujo o título é: "Salvaguarda e Valorização do Património Bibliográfico: o caso do acervo de Pereira Caldas na Escola Sá de Miranda, em Braga.", encontra-se disponível para download no seguinte link:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/64755
Exposição de Pereira Caldas
A Exposição de Pereira Caldas decorreu de um trabalho minucioso da estagiária Drª. Andreia Azevedo, investigadora no âmbito do Mestrado em Património Cultural, da Universidade do Minho, ICS, orientanda do Prof. Doutor José Cordeiro.
A mesma teve lugar entre os dias 26 de Abril e dia 8 de Maio de 2019, na Biblioteca Pereira Caldas, Escola Sá de Miranda.
Dispomos deste espaço para apresentar alguns elementos fotográficos, que servem de resumo aos documentos bibliográficos expostos durante a exposição.

A Dr.ª Andreia Azevedo, mestranda da Universidade do Minho e ex-aluna da Escola Sá de Miranda fez um trabalho excelente sobre Pereira Caldas, orientada pelo Professor Doutor José Cordeiro.
Eis o trabalho que tão gentilmente nos cedeu:
Proposta de Classificação Patrimonial de uma seleção do espólio bibliográfico de Pereira Caldas doado ao antigo Liceu Nacional Central de Sá de Miranda
Mestrado em Património Cultural
Património
Cultural e Sociedade
Índice
IntroduçãoCapítulo I - Contextualização: A consciencialização e a legislação
para a salvaguarda de bens culturais móveis. Capítulo II - Requerimento
inicial do procedimento de classificação de bens móveis. 1.
Identificação dos bens. 2. Caracterização dos bens. 3. Situação do atual proprietário. 4. Observações. 5.
Caracterização Histórica. 6. Bibliografia: 7. Elementos Fotográficos: 8. Identificação do Proponente.
Introdução
No âmbito da unidade curricular de Cultura
e Património e tal como previsto no programa de avaliação, desenvolvi
este presente trabalho individual segundo o tema: Proposta de Classificação Patrimonial de uma seleção do espólio
bibliográfico de Pereira Caldas pertencente ao antigo Liceu Nacional Central de
Sá de Miranda.O objetivo do mesmo é iniciar um processo de classificação patrimonial do
espólio bibliográfico doado pelo ilustre bracarense do século XIX, Pereira
Caldas. Uma figura incontestável, que contribuiu para que, hoje, esta
instituição de ensino pública se destaque entre as demais pela posse destes
bens que compilam os conhecimentos de outras épocas. Posto isto, esta
classificação tem em vista a elevação à categoria de bem de interesse municipal.O motivo que me levou a optar pela classificação de um espólio bibliográfico
deve-se, em primeira mão, pela raridade de frequência com que os livros e
conteúdos bibliográficos são alvo de classificação e proteção. Numa era em que
o domínio da tecnologia é quase impreterível, com a substituição dos livros por
formatos digitais, a sua salvaguarda deve ser agora, mais do que nunca,
categórica e determinante.Já a razão que sustentou a escolha particularizada de uma fração do espólio
bibliográfico de Pereira Caldas, doada à atual Escola Sá de Miranda, assenta no
facto de ter tido o excelente privilégio de frequentar o dito estabelecimento
de ensino, e vendo agora uma ótima oportunidade de privar, ainda mais de perto,
com a seu vasto legado. A Escola Sá de Miranda encerra em si uma magnifica
história com cerca de 180 anos, estabelecida atualmente no edifício do extinto
Colégio do Espirito Santo, desde 1922, que, por conseguinte, também transporta
consigo uma riquíssima história. Como não poderia deixar de ser, tenho igualmente
em conta todo enquadramento em torno de Pereira Caldas, deveras um célebre da
cidade de Braga que deve ser relembrado pela sua biblioteca e feitos. Por todos
esses motivos e uma vez que a própria doação é recheada de pequenas surpresas a
cada página desfolhada, é mais do que meritória esta proposta de classificação
e inventariação.Para a elaboração deste trabalho e seleção
pude contar com o amável apoio e contributo da Dr. Cândida Batista, responsável
pela biblioteca da Escola Sá de Miranda. Uma experiência gratificante e
riquíssima, que espero ser bastante frutífera. Posto isto, este presente trabalho
escrito está organizado em dois capítulos, existindo ainda um anexo com a
tabela avaliativa do estado de conservação. O primeiro capítulo é apenas
introdutório, onde irei mostrar a legislação criada com vista à classificação
patrimonial de documentos e elementos bibliográficos, em 1931, finalizando
ainda com a tomada de consciência face à importância para tal proteção. O
segundo e último capítulo, trata-se da derradeira e fundamental parte de todo
esta heurística, aqui estarão lançados os primeiros passos para a classificação
deste espólio bibliográfico, através do preenchimento do requerimento inicial de classificação de bens
móveis. Devo
referir que este requerimento foi alterado, a sua base original
corresponde à classificação de bens imóveis, sendo por isso essencial adequar,
o mesmo, às diretrizes que preenchem os requisitos fundamentais para a
classificação de bens bibliográficos.A metodologia utilizada foi a
pesquisa literária e o trabalho de campo, executado na biblioteca antiga da
Escola Sá de Miranda, tendo como principal base o catálogo do espólio
bibliográfico de Pereira Caldas, elaborado por uma equipa de docentes do Sá de
Miranda.Este trabalho destina-se, sobretudo,
aos alunos frequentadores do 1º ano de estudos do Mestrado em Património
Cultural, e a todos aqueles que tiverem interesse nesta área patrimonial.
Capítulo I -
Contextualização: A consciencialização e a legislação
para a salvaguarda de bens culturais móveisInício, deste modo, esta heurística tomando como ponto de
partida a legislação prevista para a protecção e salvaguarda destes bens
culturais móveis.Com o Decreto de 24 de Outubro de 1901 determina-se que a
classificação dos Monumentos Nacionais passaria a ser feita por Decreto
publicado no Diário do Governo. Contudo a situação que diz respeito ao
património cultural móvel é um tanto diferente, apesar de ter sido aprovado por
Decreto, a 30 de Dezembro de 1901, as bases para a classificação dos bens
imóveis, que devam ser considerados Monumentos Nacionais de reconhecido valor, só
a partir de 1928 passa a ser obrigatória a publicação dos arrolamentos de bens
móveis, que constituía uma das atribuições do Conselho Superior de Belas-Artes.Tendo em conta a
Lei de Bases do Património Cultural, a Lei n.º 107/2001, de 08 de Setembro, a protecção legal dos
bens culturais móveis repousa na classificação e na inventariação, dos mesmos.
Sendo assim, no que diz respeito às questões de classificação, a um determinado
bem é atribuído um valor cultural inestimável estando previsto três categorias
para a sua salvaguarda: bem de interesse
nacional ou "tesouro nacional", bem de interesse público e bem de interesse municipal.Finalmente em 1931, o Decreto com força de Lei N.º 20.586, de 4
de Dezembro, revogou toda a legislação contrária, admitindo que as medidas até
então regulamentadas provocavam uma dependência da protecção do património
artístico e arqueológico face às operações de um arrolamento geral prévio
executado por peritos do Estado, constituindo por conseguinte operações lentas,
complexas e dispendiosas, principalmente quando em vista objectos e colecções
na posse de particulares.Tal culminou nas seguintes conclusões, por parte da DGPC, que a
baixo se encontra citado.
Impondo a adopção de medidas de protecção imediatas que obstassem à saída do País deste património, independentemente de ter sido ou não arrolado, o mesmo diploma ampliava o universo dos bens inalienáveis que passava agora a integrar as espécies bibliográficas e documentais da Nação: manuscritos iluminados, incunábulos portugueses, espécies xilográficas e paleotípicas estrangeiras, cartulários e outros códices membranáceos ou cartáceos, pergaminhos e papéis avulsos de interesse diplomático, paleográfico e histórico, livros e folhetos raros ou preciosos e núcleos bibliográficos com valor. [1]
1. Identificação dos bens
2.7. Outras observações relevantes: Na totalidade dos livros deste espólio existe uma marca emitida por Pereira Caldas através de um selo branco, nela encontra-se, então, inscrito o seguinte: "Pereira Caldas Professor - Bracarense". Foi de facto este selo que permitiu, os docentes e responsáveis encarregados da catalogação, agrupar e inventariar toda a doação que até há pouco tempo se encontrava dispersa. Em muitas obras existem ainda várias anotações feitas pelo antigo proprietário, Pereira Caldas, muitas delas junto ao selo branco onde é comum estar inscrito que tal livro terá sido doado "A' Bibliotheca do Lyceu Bracarense". Para finalizar este ponto devo referir alguns pormenores dessas anotações, que por vezes se constituem bastante reveladores, como na obra Horatii Opera, dita pelo Pereira Caldas como "edição valiosa".
3. Situação do atual proprietário
4. Observações
5. Caracterização Histórica
Todo este estupendo espólio pertencia ao insigne José Joaquim da Silva Pereira Caldas. Pereira Caldas foi um jornalista, escritor, ensaísta, arqueólogo amador e professor, nasceu em S. Miguel das Caldas de Vizela, a 26 de Janeiro de 1818. Completou os seus estudos secundários em Guimarães, de seguida matriculou-se na Universidade de Coimbra nos cursos de Matemática, Filosofia e Medicina, no ano de 1835. Dez anos depois foi nomeado, via concurso, professor de Matemática e Filosofia Racional no Liceu de Leiria, em 1846 vê-se transferido para Braga onde se manteve até à data da sua morte, a 19 de Setembro de 1903. No Liceu Nacional de Braga ocupou o lugar de professor de Aritmética, Geografia, de primeiras noções de Álgebra e, mais tarde, Matemáticas Elementares. O seu contributo prestado ao Liceu bracarense como professor foi além de tal, e neste mesmo contexto terá doado parte da sua estupenda biblioteca pessoal, uma doação que conta com os mais variados temas como Política; Economia; História; Arqueologia; Geografia; Zoologia; Matemática; Filosofia; Teologia; Engenharia; Artes; Literatura, entre muitos e muitos temas. Devo ainda referir que esta digníssima figura apresentou-se como um fervoroso dedicado à causa liberal, tendo por isso organizado em Guimarães um batalhão popular, conhecido por polacos do Minho, nos anos de 1846 e 1847. Foi ainda sócio e membro ilustre das mais variadas colectividades científicas e literárias nacionais e estrangeiras, posso referir algumas como a Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães; Instituto Arqueológico Português (extinto); entre uma diversidade imensa de Academias, Sociedades, Gabinetes e afins, fez ainda parte da Comissão dos Monumentos Nacionais. A obra deixada por Pereira Caldas é igualmente de grandiosa vastidão, não só em quantidade, mas também em temática. O professor bracarense era tão admirável que mesmo Bordalo Pinheiro tomou a liberdade de criar uma caricatura de tal célebre figura, contudo, a sua biblioteca havia-lhe feito jus, tendo sido referida em várias obras e por constantes vezes, até mesmo na legenda que acompanhava a caricatura de Pereira Caldas, na Revista António Maria de 5 de Junho de 1884 - "O dr. Pereira Caldas, cavalheiro amabilíssimo, professor muito distincto e senhor d'uma das mais notáveis livrarias." A sua figura é de facto de grande memória e tal foi ilustrado no seu espólio que acabou por doar a várias instituições não só ao Liceu bracarense como à Biblioteca Pública de Braga.
6. Bibliografia:
- Arquivo da Escola Secundária de Sá de Miranda, Braga.
- Arquivo Municipal de Braga.
- Biblioteca da Escola Sá de Miranda.
- Biblioteca Nacional, Lisboa.
- Biblioteca Municipal de Braga.
- Azevedo, Rodrigo. «Liceu Nacional Sá de Miranda». Em Liceus de Portugal, cord. António Nóvoa, 119-141. Porto: Edições ASA, 2003.
- Bellino, Albano. Inscrições romanas em Braga (inéditas). Braga: Typografica Lusitana, 1895.
- Caldas, Padre António José Ferreira. Guimarães; apontamentos para a sua história. Vol, I. Porto: Typ. de A. J. da Silva Teixeira, 1881.
- Caldas, José Joaquim da Silva Pereira. Oração escholar no anno lectivo de 1886. Braga: Typ. de Bernardino A. de Sá Pereira, 1886.
- Caldas, José Joaquim da Silva Pereira. Apontamentos Gerais sobre os mais notáveis objectos que podem atrair as atenções de SS. MM. FF., na viagem pelo distrito de Braga em 1852. Braga: Fundação Bracara Augusta, 2006.
- DGPC. «Património Cultural da Nação. Bens Culturais Móveis Classificados, Inventariados ou Arrolados», Direção-Geral do Património Cultural, https://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/patrimoniomovelnovo/historial_bmci_2011.pdf, Março de 2011.
- Ribeiro, Alice, Cândida Batista, Carla Machado, Elisa Carvalho, e Fátima Costa. Pereira Caldas - Espólio Bibliográfico. Braga: Agrupamentos de Escolas Sá de Miranda, 2017.
- Simões, António José da Silva Corrêa. Relatório referente ao anno escolar de 1903 a 1904 e algumas palavras proferidas na sessão solemne da abertura das aulas do anno lectivo de 1904 a 1905. Braga: Typ. de J. M. de Souza Cruz, 1904.
- Simões, Inocêncio Francisco da. Dicionário Bibliográfico Português. Tomos IV e XIII. Lisboa: Imprensa Nacional, 1860-1885.
7- Elementos Fotográficos (As Fotografias encontram-se em Imagens da Biblioteca Antiga e Espólio)